Pular para o conteúdo principal

Monopólio, igrejas e eficiência missionária. Parte I: as igrejas históricas

O panorama religioso tem se diversificado bastante recentemente principalmente dentro do que chamamos de Cristianismo. De algumas poucas instituições que existiam, a oferta de denominações cristãs multiplicou-se com o crescimento dos evangélicos, mais especificamente os pentecostais e neo-pentecostais.

Embora a cisão da Igreja origine-se do início do milênio passado (católicos romanos x ortodoxos), tendo havido outra com a Reforma Protestante no século XVI, isso não significou o rompimento da posição monopolista das igrejas na maioria dos lugares. Embora a Igreja Católica Romana não fosse mais a única, cada país ou estado adotou a sua confissão. Alguns reis mantiveram seus países e colônias sob a égide do catolicismo, enquanto outros adotaram o protestantismo – pelo menos no mundo ocidental. Ou seja, em geral, as igrejas históricas (católica romana, luterana, reformada, anglicana e outras poucas) detiveram por séculos uma posição monopolista.

Não é por acaso que hoje, são justamente essas igrejas que não conseguem manter seus membros nem chamar novos membros. O crescimento do número de membros está diretamente relacionado à importância dada à missão e à evangelização por essas igrejas. Podemos assumir que a sobrevivência das igrejas depende da existência de um razoável número de membros. Antigamente, as igrejas históricas não precisavam se preocupar com isso.

A importância dada à evangelização reflete-se no desenvolvimento das idéias teológicas dentro dessas igrejas. Sabemos que grande parte da produção teológica tradicionalmente provinha da Europa no caso das igrejas históricas. As teologias que hoje alicerçam as igrejas tradicionais são originadas de uma época em que as igrejas detinham monopólio (Idade Média no caso dos católicos romanos, Idade Moderna no caso dos protestantes). Na Europa, as igrejas protestantes eram em geral estatais. Ou seja, não havia muitas alternativas na oferta religiosa. É evidente que, para as igrejas tradicionais, a ênfase missionária é muito menor em relação às igrejas que hoje crescem.

Não estou aqui querendo negar a importância dos fundamentos teológicos e de restrições éticas das igrejas. Entretanto, é difícil negar que, a falta de competição no “mercado religioso” pode ter ajudado a gerar teologias que enfatizavam pouco as atividades missionárias, ou seja, podem ter estimulado o surgimento de teologias ineficientes (na acepção econômica do termo).

[to be continued]


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Endogeneidade

O treinamento dos economistas em métodos quantitativos aplicados é ainda pouco desenvolvido na maioria dos cursos de economia que existem por aí. É verdade que isto tem melhorado, até porque não é mais possível acompanhar a literatura internacional sem ter conhecimento razoável de técnicas econométricas. Talvez alguns leitores deste blog ouçam falar muito em endogeneidade ou variáveis endógenas, principalmente no que se refere a modelos econométricos. Se pensamos em modelos de crescimento endógeno, o "endógeno" significa que a variável que causa o crescimento é determinada dentro do contexto do modelo. Mas em econometria, embora não seja muito diferente do que eu disse na frase anterior, endogeneidade se refere a "qualquer situação onde uma variável expicativa é correlacionada com o erro" (Wooldridge, 2011, p. 54, tradução livre). Baseando-me em um único trecho do livro do Wooldridge (Econometric Analysis of Cross-Section and Panel Data, 2 ed, 2011, p. 54-55)

Lutero e os camponeses

São raros os momentos que discorro sobre teologia neste blog. Mas eventualmente acontece, até porque preciso fazer jus ao subtítulo dele. É comum, na minha condição declarada de cristão luterano, que eu sempre seja questionado sobre as diferenças da teologia luterana em relação às outras confissões. Outra coisa sempre mencionada é o episódio histórico do massacre dos camponeses no século XVI, sancionado por escritos de Lutero. O segundo assunto merece alguma menção. Para quem não sabe (e eu nem devo esconder isso), Lutero escreveu que os camponeses, que na época estavam fazendo uma revolta bastante conturbada, deveriam ser impedidos de praticarem tais atos contrários à ordem - inclusive por meio de violência. Lutero não mediu palavras ao dizer isso, o que deu a justificativa para a violenta supressão da revolta que ocorreu subsequentemente. O objetivo deste post não é inocentar Lutero do sangue derramado sobre o qual ele, de fato, teve grande responsabilidade. Nem vou negar que Lutero

Exogeneidade em séries de tempo

Mais um texto de quem tem prova de econometria na segunda-feira. Quem não é economista não deve de forma alguma ler esse texto. Não digam que eu não avisei. Quando falamos de exogeneidade na econometria clássica, estamos falando da chamada exogeneidade "estrita", que nada mais consiste no fato de uma variável x não ser correlacionada com qualquer erro. Nas séries de tempo, no entanto, trabalha-se com três tipos de exogeneidade, dependendo do fim proposto. Na busca de resultados em inferência estatística (modos de estimar parâmetros e formulação de testes de hipótese), utiliza-se, em séries de tempo, o conceito de exogeneidade fraca. Para isso, precisamos 'fatorar a função de distribuição em duas partes: distribuição condicional e distribuição marginal . Define-se que uma variável é fracamente exógena em relação aos parâmetros de interesse se, e somente se, houver um certo tipo de reparametrização e atender duas condições: a variável de interesse precisa ser função de apen