Pular para o conteúdo principal

Ética e história perdidas no pensamento econômico

Embora Jevons e Marshall tenham difundido com sucesso o uso do cálculo diferencial na economia, isso não significou que não tenham havido discussões sobre a questão da história e da ética e sua relação com a economia na Inglaterra.

Backhouse, em seu Penguin History of Economics, menciona economistas como Thomas Leslie (1827-1982), que, influenciado pela Escola Histórica Alemã, propôs métodos mais indutivos, aparentemente com o mesmo excesso dos germânicos. Mas pelo menos, foi um inglês que reconheceu a importância das instituições (assim como os velhos históricos alemães como List e mesmo Adam Smith já reconhecia).

Mas mais importante que ele foi Arnold Tonybee (1852-1883), que morreu com apenas 31 anos. Baseado em Oxford, rejeitava que a ética permanecesse separada da economia (principalmente em questões distributivas) e afirmou a autonomia da história econômica e social de outras formas de história. Ficou conhecido por ter popularizado o termo "Revolução Industrial".

Outro que acabamos não ouvindo falar muito em nossos cursos de HPE é John Bates Clark. O norte-americano é conhecido por ser o nome da medalha concedida a jovens economistas promissores (com menos de 40 anos). Também advogou a importância da ética, embora tenha proposto, como Jevons e Menger, uma teoria de utilidade marginal, álém de ter defendido o uso de análises estáticas. Muito próximo da convergência que hoje vemos de teoria formal e instituições.

É bom sabermos que algumas idéias que novamente estão em voga como a análise institucional, não só na história (North) como também na firma (Oliver Williamson), já estavam presentes muito anteriormente. A ética (hoje com Amartya Sen e outros) também estava presente, paralelamente ao desenvolvimento dos modernos métodos matemáticos que viriam em seguida.

Mas no fundo, como Sen e outros reconhecem, já estava tudo em Adam Smith. Não é a toa que, como dizia o prof. Eugênio Lagemann nas minhas aulas de história econômica, o velho Adão é nosso pai.

Comentários

Fernando Genta disse…
Kangao,
Sexta-feira teve um seminario bacana aqui na FEA apresentado pelo Pedro, discutindo taxa de desconto da funcao utilidade e a questao etica de dar peso menor para geracoes futuras no problema do planejador central. Dado que vc deixou a florida Sao Paulo por essa sua cidadezinha meia boca, pelo menos busque o texto no Google.
Abs,
Genta

Postagens mais visitadas deste blog

Endogeneidade

O treinamento dos economistas em métodos quantitativos aplicados é ainda pouco desenvolvido na maioria dos cursos de economia que existem por aí. É verdade que isto tem melhorado, até porque não é mais possível acompanhar a literatura internacional sem ter conhecimento razoável de técnicas econométricas. Talvez alguns leitores deste blog ouçam falar muito em endogeneidade ou variáveis endógenas, principalmente no que se refere a modelos econométricos. Se pensamos em modelos de crescimento endógeno, o "endógeno" significa que a variável que causa o crescimento é determinada dentro do contexto do modelo. Mas em econometria, embora não seja muito diferente do que eu disse na frase anterior, endogeneidade se refere a "qualquer situação onde uma variável expicativa é correlacionada com o erro" (Wooldridge, 2011, p. 54, tradução livre). Baseando-me em um único trecho do livro do Wooldridge (Econometric Analysis of Cross-Section and Panel Data, 2 ed, 2011, p. 54-55)

Lutero e os camponeses

São raros os momentos que discorro sobre teologia neste blog. Mas eventualmente acontece, até porque preciso fazer jus ao subtítulo dele. É comum, na minha condição declarada de cristão luterano, que eu sempre seja questionado sobre as diferenças da teologia luterana em relação às outras confissões. Outra coisa sempre mencionada é o episódio histórico do massacre dos camponeses no século XVI, sancionado por escritos de Lutero. O segundo assunto merece alguma menção. Para quem não sabe (e eu nem devo esconder isso), Lutero escreveu que os camponeses, que na época estavam fazendo uma revolta bastante conturbada, deveriam ser impedidos de praticarem tais atos contrários à ordem - inclusive por meio de violência. Lutero não mediu palavras ao dizer isso, o que deu a justificativa para a violenta supressão da revolta que ocorreu subsequentemente. O objetivo deste post não é inocentar Lutero do sangue derramado sobre o qual ele, de fato, teve grande responsabilidade. Nem vou negar que Lutero

Exogeneidade em séries de tempo

Mais um texto de quem tem prova de econometria na segunda-feira. Quem não é economista não deve de forma alguma ler esse texto. Não digam que eu não avisei. Quando falamos de exogeneidade na econometria clássica, estamos falando da chamada exogeneidade "estrita", que nada mais consiste no fato de uma variável x não ser correlacionada com qualquer erro. Nas séries de tempo, no entanto, trabalha-se com três tipos de exogeneidade, dependendo do fim proposto. Na busca de resultados em inferência estatística (modos de estimar parâmetros e formulação de testes de hipótese), utiliza-se, em séries de tempo, o conceito de exogeneidade fraca. Para isso, precisamos 'fatorar a função de distribuição em duas partes: distribuição condicional e distribuição marginal . Define-se que uma variável é fracamente exógena em relação aos parâmetros de interesse se, e somente se, houver um certo tipo de reparametrização e atender duas condições: a variável de interesse precisa ser função de apen